No próximo dia 19 de agosto, sexta-feira, às 17h30, está programada uma participação minha no Segundo Encontro, quando estaria falando a respeito do Itinerário do Caminho Novo em Juiz de Fora. Em função de um compromisso inadiável que estarei cumprindo nesse dia e hora, peço perdão pela ausência.
No anexo, transcrevo o que seria a minha fala com algumas imagens que estaria mostrando nesse dia.
Certo da compreensão, agradeço e desejo muito sucesso aos colegas pesquisadores e palestrantes.
Um abraço do amigo
Vanderlei Tomaz
O Caminho Novo da Estrada Real
nos limites de Juiz de Fora
Vanderlei Tomaz
Ex-vereador de Juiz de Fora/MG (autor da Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura)
O Caminho Novo era a estrada aberta pelo bandeirante Garcia Rodrigues Paes, no início do Século XVIII, com a finalidade de facilitar o transporte do ouro e de pedras preciosas de Minas Gerais para o Rio de Janeiro. O caminho mais curto entre a produção de riquezas e o litoral, de onde elas partiriam para Portugal. Uma alternativa mais rápida e segura ao Caminho Velho, a estrada real mais antiga que, partindo do Rio, passava por São Paulo e pelo sul de Minas.
Por essa estrada passaram bandeirantes, índios, escravos, tropeiros, cientistas europeus, ilustradores da nossa fauna e flora, e outros artistas, inconfidentes mineiros, o Tiradentes como o guarda do caminho e propagandista do movimento de libertação, o corpo esquartejado do mártir mineiro, D.Pedro I em 1831, o então Barão de Caxias durante a Revolução Liberal de 1842, e tantos outros que ajudaram a escrever a história de Minas e do Brasil.
Para promover a ocupação das margens da estrada, a Coroa Portuguesa distribuiu concessões de sesmarias ao longo do caminho. Sesmarias eram terrenos que chegavam a ter 30 quilômetros quadrados. Aprovada a concessão da área, o sesmeiro (proprietário do terreno), acompanhado dos agrimensores (que faziam a medição da área, e também chamados de “piloto” e “louvado”) fincavam uma pedra com quatro cruzes (uma em cada face) na margem da estrada. A partir desta pedra (também chamada de “pião de pedra” ou “marco de sesmaria”) eram feitas mais quatro medições: a sudoeste da pedra, a noroeste, a nordeste e a sudeste. Ao final de cada medição, uma outra pedra era colocada (menor que a principal e com uma cruz escavada). Assim, era formada a quadra de sesmaria.
Como conseqüência dessa distribuição de terras, surgiram fazendas, inúmeros ranchos para pousadas dos tropeiros e igrejas. O comércio às margens da estrada foi florescendo e, assim, povoados iam se formando ao longo do Caminho Novo, dando origem às atuais cidades de Simão Pereira, Matias Barbosa, JUIZ DE FORA, Ewbanck da Câmara, Santos Dumont, e outras.
O Caminho Novo em Juiz de Fora
Juiz de Fora é cortada por cerca de 50 km do Caminho Novo da Estrada Real, entre os municípios de Matias Barbosa e Ewbanck da Câmara, sempre na margem esquerda do Rio Paraibuna, nunca o atravessando.
Importante lembrar que, em alguns trechos, especialmente na região urbana, o percurso foi modificado devido aos parcelamentos das áreas, novos arruamentos e retificações. Outros trechos da estrada estão impedidos por estarem em terrenos particulares ou área militar.
A definição desse trajeto foi possível estudando velhos mapas, pesquisando os relatos dos viajantes, onde estes fazem referências às localidades citadas, e a localização dos marcos de sesmarias de quatro cruzes que eram colocados na margem do caminho. Fundamental foi ouvir os relatos de moradores idosos que puderam indicar quais eram os mais antigos caminhos do lugar, com informações herdadas de pais e avós.
O Caminho Novo foi a primeira via pública aberta na região, com o propósito de encurtar a distância entre o Rio de Janeiro e os lugares de onde se extraía a nossa riqueza mineral, além de permitir a ocupação do território por meio da distribuição de sesmarias. Em parte do trajeto foram aproveitadas trilhas abertas pelos índios.
Para conhecer o traçado da estrada que deu origem à nossa cidade, sugerimos acompanhar o itinerário que apresentamos a seguir. Procuramos dividir a cidade em quatro partes para que a visita aconteça em quatro dias.
Com isso, permite-se visitar os monumentos mais antigos que dizem respeito à história de Juiz de Fora. O Caminho Novo transforma-se, assim, em um patrimônio cultural de 300 anos. Leia atentamente e um bom passeio ao túnel do tempo pelo Caminho Novo da Estrada Real em Juiz de Fora.
1º DIA – Partindo da Ponte do Zamba sobre o Rio Paraibuna, na divisa dos municípios de Juiz de Fora e Matias Barbosa, deverá ser tomada a estrada do Joasal, entre o rio e a ferrovia. No final da estrada, atravessar a ferrovia e continuar seguindo passando pelo Marmelo, acesso ao Retiro, Niterói e túnel da ferrovia, indo em direção à região do bairro Santo Antônio (Tigüera). Percorrer toda a extensão da Rua José Francisco Garcia (Tigüera), até atingir a Rua Nossa Senhora de Lourdes. Seguir pela Rua Nossa Senhora de Lourdes, Rua Costa Carvalho e Avenida Sete de Setembro, até atingir a Avenida Garibaldi Campinhos (lugar onde existiu a Fazenda do Juiz de Fora, no bairro Santos Anjos).
Nomes antigos do trecho citado: Morro dos Arrependidos, Cruz das Almas, Medeiros, Morro do Marmelo, Marmelo, Fazenda do Marmelo, Santo Antônio da Boiada, Boiada, Morro da Boiada, Fazenda do Juiz de Fora.
Observação: Do final da estrada do Joasal até o Tigüera, o trecho está impedido. Sendo assim, a alternativa mais próxima seria o caminho para Caeté, atingindo o Jardim Esperança, Retiro, Alameda Ilva Mello Reis e Bairro Santo Antônio.
2º DIA – Contornar a Praça Teotônio Vilela (Vitorino Braga), percorrer a Rua Henrique Vaz, Rua 31 de Maio, Avenida Surerus, Avenida Maria Perpétua, Avenida Brasil, Avenida Rui Barbosa e Avenida Alencar Tristão. Passar pela casa do Alcaide-Mor (casarão próximo ao cemitério Parque da Saudade), seguir pela Rua Paracatu até atingir a Avenida Juiz de Fora. Seguir por esta via até a altura do SEST/SENAT. Tomar a estrada não pavimentada à esquerda, margeando o córrego Ribeirão das Rosas, seguindo em direção ao Campo de Instruções do Exército. Passar pela Fazenda Ribeirão das Rosas, atravessar o córrego, e seguir pela estrada de terra à direita, em direção à estrada da Remonta. Na estrada da Remonta (asfaltada), seguir à direita, passando em frente à sede campestre do Círculo Militar, até chegar ao Camping Clube de Juiz de Fora.
Nomes antigos do trecho citado: Fazenda do Juiz de Fora, Alcaide-Mor, Alcaidemoria, Tapera, Rancho da Tapera, Ribeirão das Rosas e Ribeirão.
Observação: O Caminho Novo, a partir da Avenida Brasil, seguia por toda a extensão da Avenida Rui Barbosa, atravessando a ponte do córrego da Tapera (conhecida como Ponte Vermelha), e encontrando com a Rua Paracatu. Na Avenida Alencar Tristão existia uma porteira que dava acesso à casa do Alcaide-Mor, que pertenceu à família Tristão. O trecho da estrada entre o SEST/SENAT e a Remonta está em área militar. É necessária autorização para percorre-lo.
3º DIA – Seguir em direção à barragem da Represa João Penido. Continuar pela estrada em direção ao Campo Grande. Na altura do sítio da família Possali, continuar pela estrada velha da represa até atingir a Avenida JK, na Barreira do Triunfo.
Nomes antigos do trecho citado: Monte Belo, Cachoeira, Entre Morros, Cabral, Antônio Moreira, Rancho do Queiroz, Queiroz e Contendas.
Observação: Com o granjeamento, parte da estrada original (hoje, em áreas particulares) foi desprezada, mas ainda pode ser vista na região do Campo Grande. É possível observar a calha do Caminho Novo e um marco de sesmaria no sítio dos Possali. Nos fundos das casas, à direita, que margeiam a Avenida JK, em Barreira do Triunfo, pode ser visto um trecho do Caminho Novo no corte do morro. Nessa região, o caminho original cortava a horta dos Possali e o clube Thermas, alcançando a praça da Barreira.
4º DIA – Seguir pela Avenida JK até a BR040. Continuar pela rodovia até atingir a estrada do Tinguá, à esquerda após o restaurante Fartura no Fogão. Saindo da BR040, seguir pela estrada do Tinguá, atravessando o córrego da Estiva. Continuar por toda a extensão da estrada até atingir a Rua Vicente Gávio (asfaltada), em Paula Lima. Ao aproximar-se da estrada para a fazenda Vileta (última porteira à esquerda), seguir por essa estrada, passando por duas porteiras e continuar avançando em direção à Ewbank da Câmara.
Nomes antigos do trecho citado: Rancho do Queiroz, Queiroz, Contendas, Estiva, Azevedo, Coqueiros, Sobradinho, Luiz Antônio, Engenho do Mato, Engenho, Nossa Senhora da Assunção do Engenho do Mato, Rocinha do Engenho, Fazenda da Rocinha, Rocinha e Chapéu D’Uvas.
Observação: Próximo ao Restaurante Sílvio’s, na BR040, do lado direito, podem ser vistas ruínas de capelinha do Rancho do Queiroz. O nome Paula Lima para o lugar surgiu em 1891. Até então, o nome era Chapéu D’Uvas. O Caminho Novo seguia paralelo à estrada do Tinguá. Na fazenda dos herdeiros de Agnelo Lopes (lugar que era chamado de Azevedo), pode ser vista uma grande extensão do trecho original do Caminho Novo. Na Rua Vicente Gávio, o visitante vai encontrar um casarão que pertenceu à família Teixeira de Carvalho, onde teria pernoitado D.Pedro I em 1831. A Igreja de N.S. da Assunção, em Paula Lima, surgiu em meados do século XVIII no mesmo local. Ela já passou por diversas reformas. Na estrada para a fazenda Vileta, à direita, o visitante encontrará um marco de sesmaria. Seguindo por esta estrada, mais adiante, irá deparar-se com as ruínas de um antigo casarão.
Marco de Sesmaria com quatro cruzes encontrado em Paula Lima (antiga Chapéu D’Uvas),
na Fazenda Vileta, às margens do Caminho Novo.
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Marco de Sesmaria com quatro cruzes encontrado no sítio
dos Possali (Estrada do Campo Grande, Barreira).
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Trecho do Caminho Novo (sítio dos Possali) |
Fazenda Ribeirão das Rosas em Juiz de Fora |
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